quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Meu feminismo não deve satisfação para mascu - Outra abordagem



     Falei no texto anterior sobre achar um erro que o movimento feminista fique se justificando perante os masculinistas, mas não acredito ter esgotado o assunto. Para o texto não se estender muito, escrevo um segundo texto abordando outro aspecto dessa temática.
     Há um mito da mulher ideal, gentil, generosa, boa, carinhosa, linda, etc. Há, também o estereótipo da feminista: gorda, peluda, feia, arrogante, paranóica, agressiva, e lésbica. Esse segundo, tão distante do primeiro padrão, é muito divulgado como aquilo que as feministas realmente são e muitas estão engajadas numa luta para melhorar a imagem do movimento, desmentir essas acusações.
     O esforço em mostrar que as feministas não são monstros, não querem dominar os homens, não querem passar a ser violentas com eles, etc faz com que, quando a luta contra o patriarcado se torna mais acirrada, e o uso da força se torna necessário, muitas feministas recuem, pelegando, em nome da imagem pública "limpinha e cheirosinha" do feminismo ser preservada.
     Em primeiro lugar, para se preservar uma imagem precisa pré-existir, e não existe uma imagem imaculada do feminismo a ser preservada. A imagem do movimento feminista sempre será ruim, e ele sempre será mal-visto, se não pelos mitos acima, por outros. Ficar combatendo a má imagem do movimento é um desperdício de energia e uma grande falta de foco, porque enquanto os homens estiverem sozinhos no poder, donos da mídia de massas, eles sempre irão difundir uma imagem negativa de quem luta contra isso. Se convencermos a todos de que não somos peludas, dirão que somos outra coisa, e eles têm muito mais poder que nós para divulgar imagens, textos, vídeos.
     Não podemos recuar e travarmos um combate que, na prática, não ameaça o poder hegemônico, por só se utilizar de palavras (doces), gentileza, esclarecimento, etc. Temos que usar a força, como a institucional (prisões, multas, etc) e a auto-defesa. As artes, os discursos, as aulas, são recursos que somam ao movimento, mas não são os únicos válidos.
     A idéia de que as feministas são fora do padrão estético estabelecido pela mídia burguesa também não deveria ser um problema para nenhuma de nós. Esses dias, eu estava procurando perfis de feministas no Twitter para adicionar, quando me deparo com uma bio que dizia "feminista - do tipo que se depila". Qual a relevância disso? Ao fazer coisas como essas não estamos, afinal, reiterando a invalidade de a mulher decidir o que fazer com o próprio corpo?
     E daí se formos gordas? E daí se formos peludas? Mas, mais importante do que tudo o que eu disse até agora: e daí se formos lésbicas?
     Para mim, o mais nocivo dos comportamentos de dar satisfação aos masculinistas é jurar de pés juntos que não se odeia homens, até sou casada com um, tenho dois filhos homens que eu amo, etc. A resposta não-lesbofóbica para as assertivas masculinistas é: muitas feministas são lésbicas SIM e isso NÃO é um problema. 
     O feminismo que não rompe com a heterossexualidade compulsória não é emancipador de todas as mulheres, nem é um aliado adequado para o movimento LGBT. Não adianta nada ter uma página feminista no Facebook, 60% das suas publicações serem contra a homofobia, 30% contra o racismo, 10% serem publicações feministas, e quando alguém for comentar nessas poucas publicações que somos um bando de sapatas, negar enfaticamente. Isso contribui para a invisibilidade lésbica, pois se nem no movimento de luta pelos direitos das mulheres há lésbicas, onde elas estão então? No mais absoluto escuro, se é que existem.
     Dar satisfação para machistas e masculinistas a respeito da nossa (hetero)sexualidade é perder uma excelente oportunidade de combater a invisibilidade lésbica e, mais que a invisibilidade, a condenação sobre elas. 
     Se você se depila, se você é hetero, se você é magra, não enfatize isso nos debates. Enfatize que o movimento feminista é composto por mulheres diversas, e que diferente do resto da sociedade na qual ele se insere essa diversidade é bem-vinda.

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